O que torna um
escritor conhecido? Criar personagens inesquecíveis. Produzir uma obra original
e complexa. Ser agitador cultural. Representar o contexto social no qual
emerge. Ter sua obra adaptada para TV e cinema. Ser traduzido para outros
idiomas. Falar sobre as questões da natureza humana. Defender a língua
vernácula. Ter uma vida que serve como fonte de inspiração para seus fãs. Essas
características costumam percorrer a trajetória de escritores notoriamente
consagrados, incluindo o homenageado neste texto: Ariano Suassuna.
Este autor
tornou-se, no imaginário coletivo, sinônimo do Auto da Compadecida. A
popularidade dessa obra deve-se, sobretudo, à comicidade das personagens. Se
por um lado Suassuna deu vida a tipos jocosos e populares como João Grilo e
Chicó, por outro idealizou a complexidade de Dom Pedro Quaderna. Esse
personagem, que divide a narração entre lembranças e delírios, permite ao
escritor explorar a bagagem da cultura sertaneja e nordestina aliando heranças
ibéricas.
Ariano disse que
entre todas as suas obras, se apenas uma pudesse ser salva, deveria ser Romance
d’A Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai e volta, por considerá-lo o
livro que mais lhe representa enquanto escritor. O universo mítico que permeia
essa obra é um sertão transformado pela imaginação e reminiscências da infância
de Ariano na cidade de Taperoá. Essa obra foi apelidada por Ariano como romance
armorial-popular brasileiro, se tornando símbolo literário do Movimento
Armorial; criado por ele e outros artistas da música e artes plásticas, o
movimento tinha o objetivo de reunir a erudição das manifestações da cultura
popular.
O romanceiro,
romance popular de origem ibérica perpetuada no nordeste pelos folhetos de
cordel, influenciou Suassuna, assim como as iluminuras dos monges medievais. Inspirado
nesses desenhos da Idade Média, o autor criou as iluminugravuras, desenhos que
ele cria para ilustrar seus livros.
O sertão e a
tradição popular são ambientes da literatura de Ariano. Isso contribui para o
interesse da parcela da população que até então não sentia identificação com o
conteúdo apresentado no teatro e nos livros. Colocar em suas obras elementos da
cultura nordestina traz para a produção cultural do país uma nova perspectiva
sobre o que pode servir de base para a literatura.
A literatura
suassuniana trabalha com os gêneros dramático, romance e ensaio; suas peças de
teatro foram publicadas como livro e adaptadas para as telas de TV e cinema.
Apesar da
relutância do autor em sair do país, suas obras foram traduzidas e/ou
pesquisadas na França, Estados Unidos, Alemanha, Portugal, entre outros. Já que
a língua portuguesa e a cultura brasileira foram a motivação de Ariano enquanto
escritor, ele não teve interesse de aprender outra língua e visitar outra
pátria. Este posicionamento, inclusive, rendeu-lhe fama de radical e o envolveu
em polêmicas.
Suassuna
apropria-se de expressões da natureza humana – amor, cobiça, avareza, traição,
astúcia – e mostra o lado picaresco do ser humano, os conflitos morais, a
relação humana com os santos…
Ariano Suassuna
fez mais pela literatura brasileira do que duas páginas permitem contar. E
existiria um vão nos palcos e prateleiras da cultura nacional caso suas obras
não fossem encenadas e publicadas. Sem as personagens criadas por ele, haveria
silêncio no lugar de risos. Ariano é inspiração para todo brasileiro que deseja
contar histórias sobre a sua origem, ou reinventá-las. Ariano Suassuna foi
escritor, professor e defensor da literatura brasileira e da cultura popular.
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De FEMININO E
ALÉM, 29/08/2016
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